Abraçadeira

Começo pela proposta: algo grande, habitável, estranho – pedestre. Pensar a
cidade como suporte-museu, desmontar o cubo branco, abrir suas faces, revelar.
Estranhar e atrair o olhar distraído dos passantes: a verdadeira experiência do povo,
como Oiticica pensava.
Mas “Abraçadeira” nasce do olhar a cidade, seu movimento, suas estruturas,
ruínas, descartes e os moventes: um “enforca-gato”, haste flexível de nylon para
amarração e organização de cabos, então utilizada para cerzir o rasgo em uma mochila.
Como retirar da expressão “enforca-gato” a crueldade? Real o ou pressentida, como
cozer um novo significado?
Utilizar as propriedades elásticas da gambiarra, sua adaptabilidade, sua
capacidade de produzir um artefato improvisado. Se re-apropriar do objeto. A gambiarra
com alucinação do objeto:
Devolvo em “abraçadeira” o nome técnico de um objeto possui muito usos,
menos o do abraço, do acolhimento: tecer um abraço em que as pessoas pudessem
entrar e sentir o toque das abraçadeiras, restituir o nome ao objeto por meio de uma
gambiarra.
Mas falho em me desvencilhar do cubo branco, pois penso “Abraçadeira” dentro
dele, sem a interferência de outros objetos, sem distrações – centralizada: atraente e
sensível ao toque: penetrável.

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